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Muitos se interrogam como é possível 
um parasita tão pequeno ser capaz 
de causar semelhante "dor de cabeça" 
a pais e professores...

Mas a situação é mais comum do que se pensa, principalmente no verão e no início do ano letivo, alturas em que se denota um maior risco de contágio de piolhos. Estes parasitas atingem entre 15 a 20% das crianças, todos os anos, a nível mundial, dando origem à pediculose da cabeça (couro cabeludo) - uma doença parasitária que atinge principalmente crianças em idade escolar (entre os 2 e ao 12 anos). Em Portugal, representam um dos problemas mais comuns entre os pequenos, afetando entre três a cinco crianças em cada 10.

A partir do momento em que a presença de lêndeas ou piolhos é detetada, os pais são notificados pelos professores e é solicitada uma atenção redobrada no exame da cabeça do seu filho. Esta situação é recorrente em crianças que já frequentam a escola pois é aqui que os pequenos permanecem mais tempo perto uns das outras e em espaços fechados, o que facilita a propagação do parasita (que pode viver até dois meses na cabeça e, neste período, produzir entre cinco a 10 ovos por dia).

A alimentação do piolho é através de sangue e, por isso, este começa a sua ação picando o couro cabeludo. Uma mordidela que não causa apenas dor: quando suga o sangue, o piolho expele saliva com características alergizantes, provocando inflamação e uma intensa comichão na cabeça. É este último sintoma que desencadeia o sinal de alerta para os pais: a criança pode já estar com piolhos durante um determinado período de tempo mas, a deteção do problema pelos pais ou educadores só acontece quando os mais pequenos coçam a cabeça desesperadamente. Ao coçar-se, a criança aumenta, ainda mais, a inflamação, e pode contrair infeções secundárias por contaminação bacteriana, sendo frequente neste caso o aumento do tamanho dos gânglios do pescoço. Muitas vezes, a criança coça-se a noite inteira, acaba por dormir mal e vai para a escola muito sonolenta, dificultando a concentração adequada nas aulas. Como tal, há quem acredite na relação causa-efeito da pediculose e o baixo rendimento escolar.

O contágio

O piolho passa de uma cabeça para outra pelo contacto directo entre os fios de cabelo: um abraço entre os colegas, uma troca de chapéus, roupas, escovas de cabelo ou outros utensílios e acessórios de cabelo. Nas crianças, o contágio nesta época do ano é frequente devido à sua aproximação no recreio e nas salas, bem como na troca de chapéus. Um caso muito comum e que não é, em grande parte, por culpa da criança é o facto de nas escolas, os chapéus serem arrumados todos juntos e em sacos fechados. Se uma das crianças tinha piolhos quando usou o chapéu então, o cenário mais provável é o contágio em larga escala. Já nos adolescentes, a situação torna-se mais frequente quando estes se juntam para jogar os habituais jogos de Playstation.

A criança infetada precisa de ser tratada o quanto antes, tanto para evitar a contaminação de outras pessoas como para aliviar a comichão no couro cabeludo, principal sintoma da presença dos piolhos. Por isso, se a criança apresentar comichão na nuca, atrás da orelha ou em outras regiões da cabeça, é altura de examinar com mais cuidado o couro cabeludo. A forma mais adequada para procurar piolhos e lêndeas é observar muito bem, risca a risca, todo o couro cabeludo e haste do cabelo (fio), com o cabelo seco ou molhado. As lêndeas, ovos que dão origem ao parasita, são de cor branca e por isso podem ser confundidas com caspa. A diferença é que a lêndea, ao contrário da caspa, não sai facilmente, permanecendo agarrada à haste do cabelo. Uma maneira simples de perceber há quanto tempo os parasitas estão no hospedeiro é medir a distância das lêndeas do couro cabeludo. Sabendo que o cabelo cresce em média um centímetro por mês, as lêndeas afastadas mais de dois cêntímetros do couro cabeludo indicam mais de dois meses de permanência. É difícil encontrar um piolho vivo, visto que estes parasitas se movem com muita rapidez. Por isso, o diagnóstico é feito mais vezes através da existência dos seus ovos (lêndeas), de cor branco-nacarada, com cerca de 0,8 mm e firmemente agarrados à haste do cabelo.

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Como tratar
Depois de detetada a infeção, o próximo passo é o tratamento. A velha medida de cortar os cabelos pouco adianta, pois as lêndeas instalam-se junto à raiz do cabelo. A solução é pedir ao pediatra uma orientação adequada. Recomenda-se fazer a aplicação do produto antes de a criança dormir, para evitar que ela leve os cabelos à boca e, também, de forma a que o produto possa atuar durante mais tempo. Há que ter em atenção que não basta lavar a cabeça da criança com champô, pois este não é eficaz nestes casos. É necessário aplicar uma loção específica de tratamento e ter em atenção o produto que se escolhe pois a má qualidade da substância e a falta de conhecimento de colocação da mesma por parte dos pais/educadores pode levar à permanência do problema durante muito mais tempo do que o normal.

Depois de lavar cuidadosamente os cabelos da criança com a loção própria, deve ser passado o chamado “pente-fino” várias vezes nos cabelos, para arrancar as lêndeas e os piolhos que morrem agarrados aos fios. Alguns estudos confirmam que se removermos as lêndeas e os piolhos mecanicamente, três vezes por semana e durante, pelo menos, duas semanas, esta ação é quase tão eficaz como a aplicação de produtos químicos não couro cabeludo da criança. O que nem todos sabem é que o piolho pode viver até dois dias fora da cabeça. Por isso, além do tratamento com o líquido apropriado e da remoção mecânica dos parasitas, vale a pena lavar todas as roupas das crianças, incluindo chapéus, fitas de cabeça e todo o tipo de acessórios que estas usam no cabelo. Estas providências devem ser tomadas com naturalidade, de forma positiva, para não passar à criança a impressão de que tem culpa pela própria infestação.

Texto: Maria João Rodrigo, pediatra 
 
publicado por salinhadossonhos às 01:47