Quando os pais também têm medo

 

As crianças são sensíveis aos medos dos adultos. «Elas regem-se pelos olhos dos mais velhos. Percebem os mínimos espasmos musculares que o medo provoca. Sabem quando os pais estão muito assustados, mas a fingir que não se passa nada», diz o psicólogo Eduardo Sá. A melhor maneira de lidar com isso, defende, «é não fazer de conta». Para o especialista, é mais reconfortante dizer-lhes «eu também tenho medo, talvez os dois juntos consigamos resolver isto».

 

Joana Sarmento Moreira concorda. Não é adepta do jogo do esconde-esconde e considera haver situações de medo positivas. «Se não for um medo paralisante, pode até ser engraçado. Quando a mãe ou o pai têm dificuldades, por exemplo, em se aproximar de animais, podem partilhar isso e tentar progressos juntos ou pedir ajuda a uma terceira pessoa», diz.

 

 

 

O primeiro dia de escola

 

As hesitações dos mais pequenos requerem paciência e tolerância da parte dos adultos. Mas isso não significa ceder a todos os pedidos. «Os pais têm de ser firmes nas suas decisões», explica Joana Sarmento Moreira, a propósito de um medo comum: o dos primeiros dias de escola. A adaptação não deve ser brusca ou forçada, mas a criança não pode voltar para casa porque não quer ficar.

 

«Às vezes, há um vínculo ainda forte com a mãe. E o que está em causa é a chamada ‘ansiedade de separação’», explica a psicopedagoga. «Ela própria está muito nervosa. Nesses casos, a presença do pai ou de uma avó com quem o miúdo passe menos tempo facilita o momento da despedida.» Joana já experimentou esta estratégia e soma algumas vitórias. «Passados os primeiros dias, a mãe pode vir deixar o filho outra vez. Já será mais fácil», garante.

 

Nos primeiros anos de escola, o medo físico de animais ou de fogos cruzam-se com o medo de realidades vistas nos noticiários e convivem naturalmente com o temor de máscaras ou de palhaços. Só um medo é contagioso, por ser maior que todos os outros: o da separação dos pais. «Aparece quando tomam contacto com outras crianças, filhas de pais divorciados», diz Joana Sarmento Moreira. Todos sentem, mas sofrem sobretudo os visados. «Eles acham que os pais se separam por não gostarem deles. Fazem muitos corações nos trabalhos. Colocam-se duas vezes no desenho da família: de um lado com o pai, do outro com a mãe. Precisam de ser muito acarinhados», diz Rosália Ferreira, professora do primeiro ciclo do ensino básico na escola dos Cavalinhos, Maceira.

 

 

 

As motivações

 

Explicar a uma criança por que tem medo, desmistificar o estímulo que a perturba pode ajudar os pais a afastar os medos mais comuns. Os fantasmas não estão debaixo da cama. O escuro desaparece quando se acende a luz. O cão não morde quando se lhe dá a mão para cheirar. Joana Sarmento Moreira tem um exemplo em casa: «A minha filha de 20 meses assusta-se com sons fortes e tinha muito medo dos aviões. Expliquei-lhe de onde vinha o barulho e agora procuro com ela descobrir no céu de onde vem o avião. Já não fica assustada», conta.

 

Muitos dos medos das crianças provêm de sentimentos quase inconscientes. «Os miúdos não procuram explicações científicas. Quando se tenta racionalizar demasiado o medo, o melhor que se consegue é fixar um medo que seria transitório. Os medos das crianças são muito metafóricos. Do que elas precisam é de saber que o pai e a mãe estão ali para as proteger», afirma Eduardo Sá. Na maioria dos casos, um simples aconchego é mais eficaz do que uma explicação demorada, defende. «Chega-te para aqui que eu não deixo que nada de mal te aconteça». E o medo desaparece.

 

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publicado por salinhadossonhos às 12:05