1. VISUALIZE AS FÉRIAS QUE QUER TER
Não é nada místico, nem nenhum segredo que prometa a felicidade eterna. É uma estratégia bem simples: «Quanto mais pensarmos naquilo que queremos que aconteça, mais nos organizamos para que isso aconteça», explica Sandra Azevedo, responsável pela Family Coaching, empresa que desenvolve a sua actividade na área do coaching aplicado ao contexto familiar. Assim, o conselho para umas férias mesmo descansadas é: «Feche os olhos, relaxe e imagine-se de férias. Pense naquilo que quer que aconteça, no que quer sentir, no que quer fazer. Como gostaria que fossem esses dias? Onde estaria? Com quem estaria? O que diria? O que ouviria? O que cheiraria?». No fundo, «é parar para pensar». Algo que dificilmente se consegue em período pré-ferias, é verdade, mas que faz falta para nos arrumarmos e seguirmos em frente. «Quando somos capazes de identificar o que queremos, facilmente definimos estratégias e encontramos formas criativas de alcançar isso mesmo», continua, salientando ainda que «é importante definir objectivos realistas e alcançáveis, mesmo que pareçam muito pequeninos». Desta forma, cada objectivo alcançado dará «confiança e motivação para continuarmos a mudar e a sermos a mãe ou o pai que desejamos». Um conselho válido para as férias e para o resto do ano.
2. ESCOLHA BEM O LOCAL
Praia ou campo? Brasil ou Algarve? A escolha do local de férias deve ter em conta as preferências e a carteira de cada família, mas não só. A terapeuta familiar Elisabete Ferreira destaca um factor decisivo para alcançar a tranquilidade total nas férias: mobilidade. «Se o local permitir a deslocação autónoma das pessoas, quer para a praia, quer para a piscina ou outros locais de lazer, baixa de certeza o stresse, porque facilita a adequação dos diferentes ritmos e interesses dos vários elementos da família», recomenda a dirigente da Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar. O melhor é tentar escolher um local onde o carro seja perfeitamente dispensável, onde se possa ir a pé para todo o lado ou, pelo menos, os transportes públicos sejam acessíveis. Não ter de conduzir, estacionar ou entrar num carro a escaldar é libertador. Libertador é também ter bastante espaço ao ar livre disponível, especialmente para quem tem filhos mais pequenos. Dentro de casa, por muito entretenimento que tenham, é natural que as crianças se aborreçam, que fiquem inquietas, que chorem mais vezes. Fora de portas – num jardim, num parque ou até num quintal – dificilmente uma criança se cansa de descobrir coisas novas. O que ajuda os pais a descansarem, como lembra Elisabete Ferreira: «Quando existem crianças, o espaço para correrem e brincarem em segurança facilita que os pais tenham tempo para si próprios».
3. MANTENHA AS ROTINAS DOS BEBÉS
Férias é tempo de esquecer as rotinas. Certo? Depende. «Para famílias com crianças em idade pré-escolar é importante manter as rotinas de alimentação e de sono, bem como os cuidados no horário de exposição solar, para que possam estar tranquilas e bem-dispostas, diminuindo os factores de stresse», afirma Elisabete Ferreira. A psicóloga clínica Madalena Gonçalves Ferreira reforça a ideia: «Muitas vezes, mesmo sem estarem em férias, os pais queixam-se de que os filhos estão muito embirrentos ou numa fase instável, depois reparo que as crianças estão a fazer uma vida igual à dos adultos. Respeitar os ritmos e as rotinas das crianças mais pequenas evita que fiquem exaustas e contribui para que não façam tantas birras». No caso das crianças mais velhas, terá mais vantagens fazer o contrário: «Pode-se ser mais flexível com os mais crescidos. Eles percebem que isso acontece porque estão de férias e sentem-se reconhecidos por terem mais liberdade. É um crescimento que se deve valorizar, responsabilizando-os, chamando-os a ajudar os pais», reflecte a psicóloga, que colabora com o Esca – Espaço para a Saúde da Criança e do Adolescente. «Por vezes, é difícil gerir rotinas e horários tendo filhos de idades diferentes. Mas obrigar os mais velhos a cumprir as rotinas do bebé, pode levá-los a regredir, numa idade em que tal já não é esperado», acrescenta.
4. DESVALORIZE AS BIRRAS
«As birras são manifestações da vontade da própria criança que, por volta dos dois ou três anos, se apercebe de que já consegue fazer-se ouvir», explica Madalena Gonçalves Ferreira. Durante o ano, lidar com as birras dos miúdos exige uma paciência infinita, mas sabemos que fazem parte do crescimento e que, por isso, todo o nosso esforço vale a pena. «Podem tornar-se óptimas oportunidades de ajudar a criança a aprender a viver com sentimentos como a frustração e a zanga. As birras são uma manifestação saudável das emoções, sentimentos, vontades e necessidades das crianças. Apenas querem satisfazer a necessidade do momento e muito rapidamente. Mas é importante aprenderem a auto-controlarem-se», explica a psicóloga. Mas será que dá para tirar umas férias das birras? Madalena Gonçalves Ferreira descansa os pais ansiosos: «Acredito que as crianças fazem menos birras nas férias do que no resto do ano. Pode haver alguma excitação e instabilidade pelo ambiente ser diferente e exigir rotinas diferentes. Mas, geralmente, estas “birras” não são para demarcar uma posição ou para afirmar a sua vontade». Daí que não devam ser motivo de grande preocupação. Ainda assim, se surgir uma birra “daquelas”, as regras do resto do ano devem manter-se. Madalena Gonçalves Ferreira enumera-as: «Não ceder, para não passar a mensagem que as birras são perfeitamente aceitáveis para se obter aquilo que se deseja. Manter a calma, pois as crianças tendem a imitar muito facilmente o comportamento dos adultos. Ignorar a birra, para que a criança perceba que não está a surtir efeito. Deixar a criança sozinha (se for em casa ou noutro espaço familiar). Sem audiência, a criança vai acabar por acalmar-se mais rapidamente. Depois da birra, é importante conversar com a criança sobre o que passou – o que estava certo e o que estava errado, por que não pode voltar a acontecer, as consequências de uma futura birra e de um bom comportamento».
5. REFORCE AS RELAÇÕES
A falta de tempo serve muitas vezes de desculpa para não estarmos com quem gostamos, para não conhecer melhor os cantos de cada um. Nas férias há tempo e é essencial aproveitá-lo para «reforçar laços e sentimentos de pertença», como sugere Elisabete Ferreira: «É importante o envolvimento afectivo e as diferentes formas de demonstração do afecto, factores que podem reforçar as relações e a intimidade no seio da família. Ter tempo para conversar, partilhar, descobrir». E, neste aspecto, o sítio de férias não é relevante: «Mesmo quando se está em casa, o tempo para brincar em conjunto – redescobrindo brinquedos, tantas vezes esquecidos, jogos nunca jogados ou revendo DVD com os pais – poderá permitir longas conversas e outras leituras». Para quem tem filhos adolescentes, que durante o resto do ano tantas vezes parecem escapar ao alcance dos pais, «as férias são um momento privilegiado para se criarem oportunidades de realizar actividades de interesse comum», diz a especialista, lembrando que é importante também continuar a «estimular a partilha de refeições em conjunto» nas férias.
6. NÃO SE ESQUEÇA DE NAMORAR
Muitas vezes, os casais com filhos pequenos vivem absorvidos pelas responsabilidades parentais e esquecem-se do bem que faz namorar. Todas as oportunidades são boas para reacender a chama do amor, mas as férias são um momento especial: «O tempo de férias pode ser único para retomar ou alimentar o namoro, a intimidade, a partilha, a redescoberta de interesses e modos de estar comuns», lembra a terapeuta familiar Elisabete Ferreira, sublinhando o prazer de recuperar as pequenas coisas, como «simplesmente conversar». Com os miúdos à perna não dará para grandes arrebatamentos amorosos, mas o truque é aproveitar os “entretantos” para dar a mão ou trocar um olhar apaixonado. O resto virá por acréscimo. Os benefícios são para toda a família. «Quanto mais o casal, como casal, estiver coeso, próximo, íntimo, mais disponibilidade emocional tem para os filhos.»
7. ANTECIPE O REGRESSO
Todos queremos aproveitar ao máximo as férias. Por isso, é grande a tentação de voltar a casa apenas na véspera do regresso ao emprego. De gozar até ao último minuto antes de por o pé num novo ano de trabalho árduo. Mas muito stresse pode ser poupado antecipando um pouco o final das férias. «É importante voltar mais cedo. Ter tempo para preparar o material escolar com calma e permitir às crianças fazerem o reconhecimento do espaço antes de começarem a escola ou a creche. Voltar no domingo e começar a escola na segunda é uma violência, pois alteram-se os horários e corta-se o convívio diário com os pais radicalmente», defende Madalena Gonçalves Ferreira. Ter algum tempo para respirar fundo e para saborear o conforto de estar em casa contribui para um regresso à normalidade mais tranquilo, como afirma Elisabete Ferreira: «O retomar das actividades pós-férias deverá ser gradual. Para certas famílias, pode ser um factor de equilíbrio chegar um dia antes para descansar, retomar os horários rotineiros e os aspectos positivos que o outro lado da vida tem». Também nesta altura é importante parar para pensar. Sandra Azevedo deixa algumas pistas para reflectir e entrar no novo ano de forma positiva: «Imagine como gostaria que fosse este regresso. O que gostaria que acontecesse? Mas, atenção, evite pensar “no que tenho para fazer”. Experimente uma nova forma de olhar para a realidade: “O que gostaria que acontecesse?”». ..
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