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Terça-feira, 23 / 06 / 15

ESTÁ A PROTEGER DEMASIADO O SEU FILHO?

Nos dias de hoje as crianças já não correm nem brincam na rua como antigamente. Será que está a educar bem o sistema imunológico do seu filho?

Investigações recentes e especialistas confirmam que ambientes excessivamente esterilizados podem aumentar a propensão para desenvolver alergias. Será que está a educar bem o sistema imunológico do seu filho? Ao proteger o seu filho dos supostos perigos do ambiente, poderá estar a impedir o adequado desenvolvimento do seu sistema imunológico. São vários os estudos e os especialistas que o comprovam. Uma investigação recente apresentada no Congresso Internacional da European Respiratory Society concluiu que as bactérias presentes na pele e no pelo de animais podem proteger a criança de alergias no futuro.

O estudo, realizado em Munique na Alemanha e divulgado pelo jornal britânico The Independent, analisou durante dez anos 2.441 crianças saudáveis e constatou que as crianças que dormiam sobre uma pele de animal, durante os seus primeiros três meses de vida, tinham menos 79 por cento de probabilidade de desenvolver asma, comparativamente com as crianças que não foram expostas à pele de animal. De acordo com os investigadores, os micróbios presentes numa pele de animal são os mesmos que se encontram nas zonas rurais.

Em investigações anteriores, já provaram serem eficazes na proteção contra a asma. Mas, afinal, que efeito têm estas bactérias no sistema imunológico de uma criança? Entrevistámos dois especialistas, uma pediatra e um imunoalergologista, que explicam o mecanismo que está por detrás desta aparente relação incoerente. Veja o que (não) deve fazer para proteger o seu filho.

Exposição precoce

«Várias investigações têm demonstrado a existência de um efeito protetor de um estilo de vida mais tradicional, com residência em meio rural e convivência com animais de estábulo, na expressão da doença asmática na criança», confirma Mário Morais de Almeida, imunoalergologista. Contudo, o momento em que ocorre esta exposição também importa. Há estudos que vão mais longe e que sugerem que a exposição precoce a determinadas bactérias favorece mais ainda este efeito protetor.

«Este efeito protetor ocorre essencialmente nas crianças expostas a animais de estábulo em idade precoce, ou seja no primeiro ano de vida. Mas, de acordo com os estudos realizados, este efeito é ainda maior quando as mães trabalham diariamente na quinta durante a gestação, pelo que a exposição pré-natal poderá ser um fator importante», alerta o especialista. Endotoxinas é, de acordo com os autores dos estudos citados por este imunoalergologista, o nome dos produtos bacterianos que desencadeiam este efeito protetor contra a asma.

Higiene adequada ou excessiva?

Outras investigações têm mostrado que há um aumento das alergias, nomeadamente da asma, rinite, eczema ou alergia alimentar, nos países industrializados e em classes sociais altas, onde há uma tendência a exagero da higiene e esterilização do ambiente e a uso de alimentos muito processados e pasteurizados. «Quanto mais estéril é o ambiente, maior é a incidência de alergias, como se o sistema imunitário cometesse um erro na interpretação e reconhecesse como nocivo vários elementos normais no ambiente», explica Mónica Pinto, pediatra. Esterilizar demasiado o ambiente é, aliás, de acordo com ambos os especialistas, um dos erros mais comuns cometidos pelos pais.

A pediatra alerta ainda para outros erros que deve evitar. «É frequente vermos bebés tapados com uma fralda, como que tentando filtrar o ar e proteger do vento, ou não os deixarem gatinhar livremente e manterem sempre em espreguiçadeiras, que lhes limitam os movimentos e os impedem de contactar com o exterior. Também a tendência de lavar demasiado os brinquedos e objetos está errada. É normal que a criança leve a areia à boca ou coma papel. Nada disso resultará num dano terrível e pode ajudar a fortalecer o seu sistema imunitário», elucida a especialista.

Veja na página seguinte: As bactérias que são amigas das crianças

As bactérias que são amigas das crianças

De acordo com os especialistas, é importante a defesa da criança em relação a tóxicos ou bactérias perigosas, mas é igualmente importante que a criança contacte com o ambiente e com bactérias menos perigosas. Mónica Pinto explica que «expor a criança a estas bactérias permite educar o sistema imunitário, nomeadamente do sistema digestivo, em que as bactérias têm um papel importante e regulador. Mário Morais de Almeida faz o mesmo alerta. «A criança deve contactar e conviver com as bactérias que ajudam à maturação e aprendizagem do sistema imunitário», defende.

«Consequentemente, essas bactérias protegem a criança contra agentes/microrganismos patogénicos, sejam eles bactérias, vírus ou parasitas», acrescenta ainda. A explicação para este fenómeno aparentemente antagónico, está na «memória imunitária» desenvolvida pelo organismo. «Esta exposição ajuda a regular e fortalecer o sistema imunitário, ajudando a estabelecer uma memória imunitária e ajudando o organismo a lidar com o ambiente e a selecionar os estímulos nocivos, contra os quais deve desencadear a resposta imunitária», explica Mónica Pinto.

A especialista alerta ainda que «a higiene normal é benéfica, mas higiene é diferente de esterilizar o ambiente. A criança deve estar lavada, mas deve contactar com o ambiente normal, incluindo as poeiras, pelos, bactérias e substâncias que a envolvem. Se a criança não reconhece estas substâncias como normais, acaba por desenvolver uma reacção imune exagerada mais tarde, ou seja uma reação alérgica».

4 hábitos que protegem o sistema imunitário

Os cuidados que protegem o seu filho sem alterar a sua resposta imunológica:

1. Mantenha uma boa higiene diária (banho diário, lavagem das mãos, da cara e dos dentes, por exemplo), mas sem exageros e deixe a criança contactar com o ambiente. A criança deve andar destapada, deve poder explorar o ambiente, andar e gatinhar pelo chão, mexer em animais, plantas e objetos.

2. Promova o contacto com a natureza. É importante voltar a pisar a terra. Frequentar jardins e brincar com animais devem ser atividades e hábitos a manter, de acordo com a realidade social e possibilidades de cada família.

3. Prefira o aleitamento materno e a dieta mediterrânica e, se possível, evite o parto por cesariana. Vários estudos comprovam que estes são cuidados essenciais na prevenção de infeções.

4. Evite o uso de antibióticos. A maioria das infeções, nomeadamente as respiratórias, frequentes nesta época do ano, são de origem viral, nas quais não existe indicação para o uso de antibióticos. Geralmente, o controlo da febre e a hidratação adequada são suficientes. Se estiver indicado um tratamento antibiótico, este deverá ser feito com medicamentos tão selectivos quanto possível, adaptados a cada caso, evitando o uso de antibióticos de largo espetro. Converse com o médico de família ou pediatra.

Texto: Sofia Cardoso

http://lifestyle.sapo.pt/familia/crianca/artigos/esta-a-proteger-demasiado-o-seu-filho?pagina=2

publicado por salinhadossonhos às 02:11
Terça-feira, 16 / 06 / 15

DÉFICE DE ATENÇÃO E PERTURBAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO NA INFÂNCIA

Especialista defende que não é um transtorno de défice de atenção mas, sim, um transtorno de variabilidade da atenção por incapacidade de controlo, inibição e adequação comportamental

Vivemos numa época em que é comum encontrarmos crianças que parecem simplesmente não se interessar por nada. A escola não as motiva, as relações com os amigos e com os colegas são escassas e, por vezes, complicadas. Os mais pequenos vivem alheados na sua hipoatividade ou na sua hiperatividade. Não focam, não planeiam e não concretizam. Infelizmente as crianças e os adolescentes que apresentam este tipo de sintomas são usualmente diagnosticadas com perturbação de hiperatividade e défice de atenção (as siglas de PHDA) e medicadas em função de uma eventual disfunção cerebral por falta de dopamina na região do córtex pré-frontal, que afeta o desenvolvimento das funções executivas do cérebro.

Atualmente estima-se que 90% das crianças diagnosticadas não tenham efetivamente um metabolismo anormal da dopamina que é o que verdadeiramente caracteriza esta perturbação. O que é que se passa então com estas crianças/adolescentes? Numa pesquisa feita recentemente, a especialista Nicole Brown concluiu que algumas crianças diagnosticadas com este problema sofrem, em primeiro lugar, de outros temas que nenhum estimulante pode tratar. Independentemente de poderem vir a ter um diagnóstico de PHDA, a verdade é que existem fatores emocionais que estão a desencadear os sintomas verificados e que têm que ser tratados, antes de se pensar em qualquer alternativa farmacológica. Défice de atenção ou perturbação de concentração então?

Muito se tem discutido se esta perturbação é física e/ou emocional, no sentido da existência ou não de um transtorno cerebral. Uma discussão insípida, na medida em que exista ou não na criança um compromisso a nível cerebral (apenas confirmado através de exames ao cérebro), existem sempre fatores emocionais que contribuem para o aparecimento dos sintomas verificados e que são irmãos gémeos de um funcionamento neurofisiológico/emocional que dificulta o foco, a atenção voluntária, o domínio de si e a escolha intencional. A verdade é que, infelizmente, o aumento exponencial do número de crianças medicadas tem origem na crença de que se trata de uma perturbação biológica.

A diferença entre a percentagem de crianças diagnosticadas com PHDA em países como os Estados Unidos da América e em França é de 9% para 0,5%, respetivamente, porque em França se acredita que é um distúrbio de origem psicossocial, que deve ser tratado com psicoterapia e aconselhamento familiar. Ainda vivemos numa época em que as intervenções em crianças com condutas concordantes com o diagnóstico de PHDA se baseiam muito na procura soluções rápidas, fáceis e eficazes, pelo menos a curto prazo.

É o reflexo desta ditadura de sucesso em que vivemos. Generalizou-se a intervenção farmacológica, através da utilização do metilfenidato (componente da medicação psicostimulante utilizada) já considerado um gadget da modernidade e a intervenção de tipo cognitivo-comportamental, com o objetivo de influenciar/alterar o comportamento da criança, de forma a melhorar a sua conduta, o seu desempenho e o seu rendimento académico.

As (más) abordagens atuais

Estes não atuam, contudo, na causa, no que estás por detrás de todos os sintomas evidenciados. Acredito que mesmo nas situações em que se verifica um comprometimento no funcionamento físico do organismo, o que nem sempre acontece. Existem situações em que este ficou interrompido por fatores emocionais regredidos que colocaram o corpo num estado de depressão interna, de fuga e de alheamento, que não permitiu o salutar desenvolvimento do córtex pré-frontal e com ele a possibilidade de modular os estímulos sensoriais e emocionais. A perturbação de hiperatividade e défice de atenção não é um transtorno de défice de atenção mas, sim, um transtorno de variabilidade da atenção por incapacidade de controlo, inibição e adequação comportamental.

São questões emocionais inconscientes que estão na base de 80% dos índices de distratibilidade. Nada disto pode continuar a ser deixado ao acaso. É fundamental que os profissionais de saúde se consciencializem que não podem continuar a olhar para as disfunções neurofisiológicas de forma isolada mas sim, como o reflexo de um mecanismo composto pela tríade corpo, mente e espírito, que se encontra bloqueada. É preciso trazer estes jovens de volta à vida e ir à raiz deste funcionamento psicofisiológico.

O maior compromisso que estas crianças e adolescentes apresentam é um compromisso consigo próprias e com a sua capacidade de adequação ao mundo. Os seus padrões comportamentais não são mais do que a externalização do mal-estar interno que governa as suas vidas. E os seus corpos são o reflexo disso!

Texto: Ana Galhardo Simões (psicoterapeuta corporal que integra o projeto Psicologia-corporal.com)

artigo do parceiro:
publicado por salinhadossonhos às 02:58
Terça-feira, 09 / 06 / 15

CONSEQUÊNCIAS DE NOITES MAL DORMIDAS NO FUNCIONAMENTO DIURNO DAS CRIANÇAS

"Tenho sono, quero dormir só mais um bocadinho!" Estas são as primeiras palavras de uma criança ao acordar, depois de não ter dormido o suficiente na noite anterior. Surgem geralmente acompanhadas de irritabilidade ("acorda sempre mal disposta") e, depois de se levantar, de grande lentidão ao preparar-se para ir para a escola

 

Naturalmente, nascem conflitos entre pais e filhos logo pela manhã, sobretudo se tanto uns como outros chegam atrasados à escola ou ao trabalho.

As consequências de noites "mal dormidas" não terminam no portão da escola. Durante o dia os professores notam o aluno sonolento, distraído, mais lento a resolver os problemas ou a resolvê-los de forma impulsiva, dando os clássicos erros "por distração". Se a criança tiver uma perturbação do desenvolvimento primária (como um défice de atenção), o seu desempenho será ainda mais afetado.

Durante o intervalo poder-se-ão desenrolar quezílias com os pares, pois crianças (e adolescentes) com privação de sono tendem a interpretar de forma errónea determinadas situações sociais, percebendo-as como ameaçadoras e respondendo-lhes de forma impulsiva e emocional, pois estão menos capazes de as ler com objetividade. Por exemplo, interpretam uma brincadeira como uma provocação e respondem de forma agressiva. A passagem ao acto é comum nos adolescentes, que à restrição de sono somam o consumo de substâncias estimulantes (cafés e bebidas energéticas) para se manterem acordados, ficando ainda mais impulsivos.

No regresso a casa, depois de um cansativo dia de aulas, a motivação para a aprendizagem é mínima e só depois de muita insistência (e de igual resistência) é que estudam ou fazem os TPC.

No caso das crianças mais pequenas, também a tolerância à frustração é escassa e qualquer pequeno contratempo resulta numa explosão de choro e gritos, que ressoam nos ouvidos de pais também cansados porque quando os filhos dormem mal, os pais também.

E porque o dia prepara a noite, se as crianças estão irritadas na hora de deitar vão resistir a ir para a cama e terão maior dificuldade em adormecer, pois a acalmia e relaxação necessárias tem de começar muito antes de dormir.

Considerando as 24 horas do dia de uma família em privação de sono, é fácil perceber que o sono insuficiente tem impacto a vários níveis, nomeadamente cognitivo, emocional, comportamental e relacional.

É então necessário um olhar mais atento ao sono das crianças e adolecentes pois a repercussão na aprendizagem é enorme, bastando apenas uma noite de sono insuficiente para se verem limitações na atenção, concentração e memória. Também as funções executivas (planeamento e resolução de problemas) estão comprometidas e o rendimento escolar fica claramente aquém das suas capacidades reais. Esta constatação acaba por reforçar as alterações no humor que decorrem de noites mal dormidas, nomeadamente ao nível da ansiedade e depressão. Alterações no comportamento, em termos de impulsividade, agressividade e oposição despoletam conflitos por vezes difíceis de resolver com colegas, professores e pais.

Assim, a perturbação do sono da criança nunca é apenas dela uma vez que o seu impacto estende-se a vários contextos, sendo que quando esta é alvo de intervenção verifica-se uma melhoria substancial na qualidade de vida de todos os que com ela privam.

Mafalda Leitão – Psicóloga Clínica mafalda.leitao@pin.com.pt Facebook PIN

http://lifestyle.sapo.pt/familia/crianca/artigos/consequencias-de-noites-mal-dormidas-no-funcionamento-diurno-das-criancas?pagina=2

publicado por salinhadossonhos às 02:54
Terça-feira, 05 / 05 / 15

GORDURA NÃO É FORMOSURA… MESMO NAS CRIANÇAS!

A obesidade infantil não para de aumentar e os miúdos que já despertaram para os prazeres da comida são as maiores vítimas potenciais. Veja o que deve fazer para os travar

Fat boy measuring his belly

Há crianças que gostam de comer e de provar alimentos novos. E há crianças cujo apetite é verdadeiramente devorador. Para estas crianças o risco de obesidade aumenta exponencialmente. Do ponto de vista do desenvolvimento psicomotor da criança, é importante variar a alimentação, pois é uma forma de estimular a descoberta de novos alimentos. Uma criança que seja ensinada a descobrir coisas novas, generalizará esse gosto para os diversos campos da sua vida futura. «Uma criança que goste de comer não significa que seja comilona», explica Ana Serrão Neto, pediatra coordenadora do Centro da Criança do Hospital Cuf Descobertas, em Lisboa.

«Mas as crianças comilonas, que não param de comer senão quando estão empanturradas, têm maior risco de obesidade», refere ainda a especialista. «Estas crianças habituam-se a só sentirem saciedade, ou seja, a só deixarem de ter fome, quando têm o estômago muito cheio. É o mito de estômago dilatado, mas a verdade é que só param de comer no limite», adianta a médica. Um hábito que pode ser compulsivo e pode perpetuar-se, pelo que haverá risco de obesidade. Uma situação que exige um acompanhamento familiar vigilante e atento.

«Os pais devem, por isso, estimular, desde o primeiro ano de vida, uma alimentação diversificada, mas não a ingestão de quantidades exageradas de comida. É importante que se coma bem, mas em quantidades moderadas», sublinha a pediatra que alerta para o facto de na idade escolar muitas crianças não gostarem da alimentação da escola e ao jantar comerem exageradamente. «É a pior hora do dia para exagerar, pois a seguir ao jantar as crianças deitam-se, sem gastarem as calorias ingeridas». Fica o alerta de que, efetivamente, gordura não é formosura.

artigo do parceiro:
publicado por salinhadossonhos às 02:50
Terça-feira, 28 / 04 / 15

Educar exige tempo e disponibilidade

 
Manuel Rangel

Educar, criar hábitos pessoais e sociais corretos, desenvolver a autonomia das crianças exige muita vontade e determinação, mas também muito tempo e disponibilidade – tudo aquilo que, em geral, falta às famílias de hoje!

Reprimir as birras, deixar as fraldas, largar a chupeta e o biberão, comer pela sua mão, saber estar à mesa com os adultos, vestir-se a si próprio, tomar banho sozinho, respeitar os outros, em particular os mais velhos, cumprir regras são, efetivamente, hábitos fundamentais para o crescimento das crianças, mas que, ao contrário do que pode parecer, exigem de nós, pais e educadores, muito tempo.

Se elas viessem ensinadas e treinadas seria, então sim, para nós, muito mais fácil: já teriam todos esses hábitos interiorizados! Mas como assim não é, muitas vezes, dá menos trabalho e é bem mais fácil: ceder ao choro e dar-lhes o que querem no momento, porque já não os podemos ouvir; pôr-lhes uma fralda, para não termos de nos levantar duas ou três vezes durante a noite ou, então, para não estarmos ali tanto tempo à espera…; dar-lhes a chupeta, para que adormeçam mais depressa; “enfiar-lhes” o biberão enquanto nos vestimos; vesti-los e “despachá-los” de manhã para podermos chegar todos a horas ao trabalho; dar-lhes de jantar na cozinha, separados do resto da família, para jantarmos em paz; deixá-los interromper e sobreporem-se aos adultos, senão não se calam; etc., etc., etc.

É, de facto, mais consentâneo com o nosso ritmo de vida, com as exigências atuais, com a nossa pressa constante, com o nosso frequente cansaço e até com o nosso comodismo cedermos, naquilo em que devíamos ser exigentes, deixarmos para amanhã aquilo que devia ser feito desde já, adiarmos um pouco o que sabemos vir a ser inevitável – “Até porque também nós temos os nossos interesses e temos de ter o nosso tempo e a nossa vida, então, não é?!… e eles, também, coitados!...”

Por isso – e afirmo-o com vasto conhecimento de causa – é, hoje, tão frequente ver crianças numa estranha discrepância: mexem com enorme à vontade em consolas, comandos, vídeos, computadores e telemóveis, papagueiam umas palavras em inglês, veem telenovelas e programas de gosto discutível, discutem com os pais, avós e educadores, mas, muitas vezes, aos 5, 6 , 7 anos ainda usam chupeta e até fralda à noite (pasme-se!!!), tomam biberão de manhã, são incapazes de estar sentados à mesa, não articulam a maioria das palavras com correção, mas interrompem, sistematicamente, os adultos!

Neste tempo de tanta contabilidade, para pais e educadores é uma pura ilusão esta economia de tempo e de esforço! Mais não fazem do que adiar os problemas e, na maior parte dos casos, de os agravar. Porque deixam consolidar hábitos que demorarão muito mais a corrigir, porque infantilizam as crianças, porque lhes criam, no futuro, problemas na relação com os outros e na convivência social e, sobretudo, porque atrasam a sua aprendizagem e o desenvolvimento da sua autonomia.

Em casa ou na escola, é necessário bom senso para educar! Mas, mais do que isso, é necessário tempo e disponibilidade: o tempo gasto na “hora certa” não é tempo perdido! É um tempo ganho em termos de bem-estar e desenvolvimento da criança… e, a prazo, em termos da sua própria liberdade e autonomia, enquanto adultos!

http://www.portoeditora.pt/espacoprofessor/paginas-especiais/educacao-pre-escolar/opiniao-pre/disponibilidade

publicado por salinhadossonhos às 22:53
Sexta-feira, 10 / 04 / 15

Caminhada de sensibilização - Maus Tratos na Infância

Hoje, dia um de abril, tem início o Mês da Prevenção dos Maus Tratos na Infância.

Para o assinalar, a CPCJ de Braga elaborou o calendário que aqui se publica, distribuído a 11 000 crianças que frequentam os jardins-de-infância e as escolas básicas do 1.º e do 2.º ciclo do concelho de Braga. Através delas, ele chegou às mãos dos seus pais.

Aproximar pais e filhos e fomentar o exercício de uma parentalidade positiva são os principais objetivos desta iniciativa.

Pelas nossas crianças, tudo vale a pena. E um pequeno gesto faz a diferença!

Caros pais, vamos a isso?!

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Esta Caminhada é uma das iniciativas que a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Braga, em estreita articulação com a Câmara Municipal, vai levar a cabo para assinalar os Mês da Prevenção dos Maus Tratos na Infância – abril –, aderindo, assim, à campanha «Laço Azul».

São principais objetivos desta iniciativa envolver e consciencializar a comunidade para a importância da prevenção dos maus tratos a crianças e jovens e fortalecer os laços familiares, visando o exercício de uma parentalidade positiva.

Neste sentido, todos os agrupamentos de escolas e as escolas profissionais e privadas do concelho foram desafiadas a construir o seu laço azul. Os laços construídos serão, no dia da caminhada, suspensos em árvores ou outros suportes do percurso, a fim de poderem ser admirados por caminhantes e transeuntes, e ali permanecerão até ao final do mês.

https://www.facebook.com/caminhada.lacoazul.braga?fref=photo

publicado por salinhadossonhos às 19:42
Terça-feira, 24 / 03 / 15

Tudo é eterno

Escrito por Eduardo Sá Sexta, 11 Abril 2014 

Muitos professores são, muitas vezes, tios e, mesmo não devendo, são um bocadinho pais.

A escola é uma sala de estar, tem de aconchegar! Um professor de verdade educa antes de ensinar e é por isso que muitos professores são, muitas vezes, tios e, mesmo não devendo, são um bocadinho pais.

  1. Na verdade, nada é tão linear como parece. Nem as crianças são pequenas, nem os seus pais crescidos, como aparentam. Elas nem sempre crescem. E eles voltam, por entro, muitas vezes, para trás. Com o tempo há quem se torne jovem. E quem, entre as oportunidades que tem para crescer, vacile e envelheça. Com o tempo, há quem se torne ingénuo e sábio, arrebatado, amável, terno ou buliçoso. E quem azede, adoçando a ira de euforia. Com o tempo há quem - de cada vez que muda queira começar do zero (como quem deixa de si quase tudo para trás). E há quem recrie tudo o que sabe, nunca partindo sem que leve aquilo que os outros teimam em deixar. Para quem envelhece nada é eterno. Para quem se recria tudo é para sempre. Quem envelhece morre todos os dias, um pouco mais. Quem se recria torna-se jovem, sempre que aprende.
  1. Na verdade, nada é tão linear como parece. E é por isso que eu imagino que, um dia, a escola deixe as linhas direitas e se desarrume um bocadinho. E mais pareça uma praça muito grande, onde, a par de todas as matérias que as crianças tenham de aprender, haja um senhor, com bigodes retorcidos e rosetas afogueadas, tomando conta do sorriso, que as torne brincadoras. E lhes explique - devagarinho, se for preciso – que brincar é aprender. As crianças deviam ter recreios de compensação até que aprendessem a brincar. E ninguém as devia largar enquanto não abafassem berlindes, jogassem ao lenço ou à macaca, porque primeiro liga-se o corpo e aquilo que se sente e, só depois, o que se sabe com tudo o que se aprende. É por isso, certamente, que, ao contrário dos sabichões, os sábios nunca são enfadonhos. E um dia, para além da história que vem nos compêndios que cheiram bem, a D. Perpétua, que distribui graçolas com os jornais que vende, todos os dias, devia ensinar às crianças que, tão importante como a conjugação dos verbos e a gramática, a aritmética ou a matemática, é bom chorar no cinema, quando tem de ser. E só se aprende uma história, seja a de um rei ou a de um peixe com memória de grilo, por exemplo quando ela entra por nós sem nenhum «se faz favor!?...» e fi ca, em parte incerta, cavaqueando baixinho. E que o senhor do talho, que empurra o mundo com o avental, avalie com todo o rigor se cada criança é capaz de rir até às lágrimas, antes de ousar pegar no lápis e escrever aquilo que se acotovela na imaginação. Na verdade, o riso é amigo do espanto. E quem não se espanta nunca aprende que um problema é sempre muito mais importante do que qualquer solução. Ah! E se houver um Doutor Valeroso, de óculos descaídos, que não ensine o português antes de as crianças aprenderem a ir ao último capítulo, logo depois de passarem pela casa da partida, será demais. Como é bom atropelar a imaginação sempre que se adivinha! Sem nunca, mesmo nunca, confundir sonho e devaneio! A escola é uma sala de estar. Tem de aconchegar! E precisa de explicar, ao mesmo tempo, que compreender não é condescender. E que um professor de verdade educa antes de ensinar e é por isso que muitos professores são, muitas vezes, tios e, mesmo não devendo, são um bocadinho pais. A escola devia ser, também, um banco de jardim. E devia pôr, no lugar da unicidade, a pluralidade: diversos professores, muitos amigos, os pais num entra e sai, mais a D. Perpétua, o senhor das rosetas e o homem do talho que educam melhor, e põem mais longe no olhar. A escola devia ter um cantinho, para cada um. E um diretor de turma devia dar poucas aulas. Muito poucas. E devia telefonar, a perguntar pela constipação da Constança e devia fechar a escola, sempre que uma criança se zangasse com ela e a abandonasse. E sempre que uma criança reprovasse duas vezes, devia considera-la em perigo. Não tanto a criança, mas a escola e a família (que parecem distraídas, uma com a outra, e não a conhecem).
  1. A escola é uma praça, uma sala de estar e um banco de jardim. E, com o tempo, devia tornar ingénuos e sábios, arrebatados, amáveis, ternos ou buliçosos todos aqueles que vacilam e envelhecem. Para quem envelhece nada é eterno. Para quem aprende tudo é para sempre.. A escola devia ter um cantinho, para cada um. O diretor de turma devia fechar a escola, sempre que uma criança se zangasse com ela e a abandonasse.

 

Crónica da edição de março de 2009.

http://www.paisefilhos.pt/index.php/opiniao/eduardo-sa/7034-tudo-e-eterno

publicado por salinhadossonhos às 17:27
Terça-feira, 17 / 03 / 15

Amo-te, pai

 

 Seja como for, não se deve temer pela saúde duma criança sempre que ela poupe o pai a todos os “likes” que desperdiça no Facebook

Embora se apresente em diversos tamanhos, o pai pode ser usado todos os dias, sem causar habituação. Habitualmente, pela manhã, o pai pode ser administrado numa dose ligeira, o que implica acordar os filhos, gritar para que se despachem (enquanto faz, atabalhoadamente, a barba) e ameaçar, como de costume, que não espera nem mais um minuto, depois de buzinar duas vezes, até que os filhos desçam, sem atrasos, para irem para a escola. Há, também, quem use uma porção, mais ou menos variável, de pai, ao fim do dia, o que inclui dar a voz de comando em relação ao banho, lutar contra as dúvidas de matemática que se acotovelam quando os trabalhos de casa puxam pelo sono, e ler (nunca contar...) uma história, antes de dormir. Muito raramente, há quem use o pai durante a noite, para caçar “fantasmas”, nos maus sonhos, ou quando uma dor de barriga vem a calhar, sempre que se descobre (a altas horas) que os trabalhos de casa se perderam entre a sala de aula e o caminho para casa. Por mais que haja quem recomende que isso se trata duma adição muito perigosa, há quem consuma, ainda, doses generosas de pai, ao fim-de-semana. E, claro, quem sofra do perigoso distúrbio de não passar sem ele, antes e depois da escola, enquanto se esgadanham os dois atrás duma bola ou sempre que contam histórias e piadas palermas e divertidas, enquanto se martirizam com as almofadas e deixam o sofá num estado de sítio.

Tanto pai pode, de facto, fazer mal a uma criança! Daí que se deva considerar que um  estado normal de pai (que deixa uma criança à margem de intoxicações delicadas)  é que ele seja sentido como se não tivesse coração, fosse trôpego com as palavras, tivesse um atrapalhador no lugar do coração e, sempre que são precisos gestos claros e calorosos de ternura, que ele mais pareça um prestidigitador. Ou que seja mais ou menos natural que o pai não se lembre dum aniversário importante, do nome da diretora de turma, dos dias dos testes ou das disciplinas dum filho, por exemplo. Ou que se entenda como um ato de gestão corrente que, sempre que um filho compartilha desabafos, o faça com a mãe e que, depois dela os dividir com ele, o pai faça de distraído (até porque isso leva a que os filhos falem com ele por meias-palavras e por entre linhas, como se, em vez dum homem generoso e palpitante, o pai fosse, consoante “o fumo” que lhe esvoaça das orelhas, um vulcão adormecido). Ou que se convencione que um pai trabalha muito e que, por causa disso, a gritaria lá em casa baixa de tom mal ele esteja para chegar! Ou que, consoante os casos, a mãe, depois de se esganiçar, acabe a dizer: “Não tarda nada, chega o teu pai, e tu vais ver!...” (como se, em vez do Pai Natal, o pai fosse uma versão, com fato e gravata, do lobo mau). Ou − ainda, que o pai mereça mimos e abraços (ou venha de lá um: “paizão, gosto muito de ti”!) unicamente quando o “rendimento social de inserção” dum filho, entretanto, se “constipou”, e a mesada dele precisa de ser aconchegada com uma emissão... de dívida. Ou − e a lista de sintomas “anti-inflamatórios” parece, felizmente, nunca mais acabar! − que se ache razoável que o pai exagere nas vezes em que faz de “homem-invisível” e sempre que, finalmente, ele se chega à frente, todos concordem que aquele momento... nunca existiu, dando à sua autoridade um leve tom de “missão impossível” (sem que, no entretanto, ele lucre com o glamour dum protagonista e que, em vez de se fazer transportar num coração que mais parece uma limousine, o pai, com o barulho das luzes, antes fosse um verdadeiro anti-herói).
Todos estes embalagens de pai são vulgares e equivalem às diversas cores com que se revestem as drageias ou os comprimidos. Devem ser administradas com cuidado e, sendo assim, podem ser deixadas ao alcance das crianças. Seja como for, não se deve temer pela saúde duma criança sempre que ela poupe o pai a todos os “likes” que desperdiça no Facebook. Ou sempre que o reconhece tão capaz de intuir e de resolver aquilo que ela, ainda, mal pensou, que o viva em “modo de voo”, sempre desligada dos gestos guerreiros que cobrem de vaidade qualquer pai.
É claro que o amor do pai talvez traga consigo uma ligeira alteração da temperatura do corpo: é natural que os filhos, bem amados pelo pai, não sejam tão afoitos e perseverantes como deviam porque − com a mesma desenvoltura com que chamam pela mãe, mal lhes dói seja o que for − logo que falam “tu cá, tu lá” com uma contrariedade, terminam sempre a reconhecer que o pai a... resolve. E aí, sim, o estado geral duma criança corre perigos severos. Porque, regra  geral, confere a um pai um estatuto de super-herói, com a imensa vantagem dele não ter que se mascarar para evocar os seus poderes. E, é claro, que o coloca ali entre um bombeiro e um mágico (o que, não lhe dando um descanso por aí além,  evoca um lado amigo do “bricolage” que lhe alimenta uma aura de faz-tudo, sem direito a férias, fins-de-semana ou feriados).
Em circunstâncias-limite, tanto pai gera um estado inflamatório exuberante, que torna uma criança um bocadinho desgovernada do juízo podendo acontecer que, depois de se colocar às suas cavalitas, ela dobre o riso enquanto ele a lança ao ar e a transforma num... aviãozinho.
Há quem, no entanto, reconheça que, enquanto a mãe a acalenta, o pai faça de conta que tem “nervos de aço” e, depois de encher o peito de ar, e de coração apertado, dê um empurrãozinho no rabo duma criança enquanto a faz ter um pouco mais de mundo. Mas todo o cuidado é pouco! Até porque há relatos − preocupantes! − que, garantem que há pais que fingem ser um gigantão e, depois de se porem em bicos de pés e de esticarem os braços o mais que podem, levam os filhos a acreditar que chegam às nuvens ou que arranharam os céus...

É por estas e por outras que o uso de pai deve ser administrado com muito cuidado! Embora seja, geralmente, aceite que abraçar um pai pareça não ser um desperdício E dizer: “Amo-te, pai!” esteja para o coração paterno como a chave completa para o Euromilhões...

http://www.paisefilhos.pt/index.php/opiniao/eduardo-sa/7283-amo-te-pai

publicado por salinhadossonhos às 17:22
Terça-feira, 10 / 03 / 15

É fácil estragar um filho

Escrito por Eduardo Sá Quarta, 18 Junho 2014 

 Não é verdade que as crianças deviam vir equipadas com manual de instruções. Mas também não acredito que, apesar desse desabafo ter virado moda, os pais – os bons pais, claro – ganhassem o que quer que fosse se isso se desse assim. E se as crianças viessem equipadas com manual de instruções?

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Não é verdade que as crianças deviam vir equipadas com manual de instruções. Mas também não acredito que, apesar desse desabafo ter virado moda, os pais – os bons pais, claro – ganhassem o que quer que fosse se isso se desse assim. E se as crianças viessem equipadas com manual de instruções? Os pais adormeciam para o “equipamento de base” indispensável de que dispõem para serem bons pais: o sexto sentido (que é uma espécie de instinto de adivinhar, que os habilita para ler as meias-palavras, as entrelinhas e os silêncios dos filhos), o bom senso (que os leva, antes de esgotarem as suas quotas de parvoíce, a chegar “num pulo” ao sentido de justiça) e o coração grande (e a cabeça quente) com que se vai da ternura, ao carinho e à bondade.

 Os pais não precisam, portanto, de um manual de instruções para serem bons pais! Por mais que menos irmãos, menos sobrinhos e menos afilhados, no seu crescimento, representem menos oportunidades para apanharem o jeito de ler e de legendar as manhas, as manias e o jeito de amar (imenso mas desengonçado) de todas as crianças. E não precisam dele mesmo que menos crianças a nascer não pressuponha mais oportunidades para serem melhores pais. Os pais precisam, isso sim, de se aventurar pelas suas experiências de filhos e de ser tagarelas, todos os dias, com essas memórias, de mansinho. Mesmo que, amassados por elas, às vezes o coração se feche e dê um nó e desse modo eles descubram que há pessoas que até quando choram são bonitas.

Os pais não precisam de um manual de instruções para serem bons pais! E, muito menos, de serem – pai e mãe – concertados nas opiniões que têm acerca dos comportamentos e dos trejeitos das crianças. É, portanto, mentira que os bons pais para serem irrepreensíveis como pais, estejam proibidos de discordar ou de discutir. E, muito menos (por mais ternurenta que seja a convicção profunda com que o afirmam) que jamais se possam desautorizar um à frente do outro – e ambos “nas barbas” duma criança – como se ela, sempre que sente o olhar dos dois em rota de colisão, não descortinasse nas suas testas “luzinhas” de cores contraditórias a acender e a apagar. Sempre que os pais se juntam num só erro cada um é para o outro o manual de instruções que lhe faz falta!

 Os pais não precisam de um manual de instruções para serem bons pais! Porque isso talvez os leve a querer serem exemplares. Ou irrepreensíveis. Ou bem comportados. Ou aprumados. Ou atilados, até... Sempre que exigem ser mais ou menos perfeitos falta-lhes, isso sim, um bocadinho de alma e de insolência no coração para que, em cada uma das suas hesitações, encontrem o fio da meada dum novo manual de instruções. É bom, por isso, que (no meio duma birra de pais) eles “fervam em pouca água!”. Ou que tenham o coração ao pé da boca. Ou, sempre que se enfurecem, digam o que querem e o que não querem. As crianças não tiram os pais do sério: devolvem-nos ao sério! Afinal, sempre que erram muitas vezes, as crianças não deixam que os pais fiquem sempre presos ao mesmo erro!

Os pais não precisam de um manual de instruções para serem bons pais! Porque isso talvez os levasse a ignorar que, depois das crianças, os melhores manuais de instruções de que dispõem são a sua própria infância e os pais que eles tiveram. Mas serão os pais... bons filhos? Não no sentido de dizerem sim a todos os caprichos dos seus pais, a nunca os contrariarem ou a serem uma espécie de seus “oficiais às suas ordens”, mas de lhes darem colo e carinho, de falarem por eles (mesmo quando se trata de se aventurarem pelos seus silêncios), ou de exigirem ser escutados (em vez de se ficarem por mais um: “ele não vai entender”)? Serão os pais bons filhos, quando se trata se reconhecerem nos seus próprios pais a sabedoria que faz com que eles sejam, para sempre, a sua “entidade reguladora”, e não vacilando, sequer, mal eles ameaçam desistir, os proíbem de começar a morrer? Será a maioria dos pais bons filhos? Não! E será que podemos ser bons pais e maus filhos, ao mesmo tempo? Também não! Sendo assim, há um manual de instruções escondido na maneira com que os pais se resgatam para que sejam, hoje, pelos seus seus gestos, os filhos que desejaram toda a vida vir a ser: para serem bons pais, não precisam de manuais; basta que se sejam bons filhos!

 Em resumo, é fácil estragar um filho: eduque-o com um manual de instruções! Daqueles que acham que a escola é mais importante que a família, que brincar vale menos que aprender, e que as histórias, ao pé dos algarismos estão sempre a mais. Ou daqueles que se alarmam sempre que as crianças “falam pelos cotovelos” ou fazem tudo para não perderem a “língua de perguntador”. Ou de outros, ainda, que recomendam que as crianças só devem ser repreendidas sempre que aceitam ser contrariadas. É fácil estragar um filho. A fórmula para isso será mais ou menos assim: quanto mais manuais, piores pais!

Mas se os quiser ignorar, não perca de vista que os pais não precisam de um manual de instruções! Porque isso pressupõe que por trás duma criança há sempre uma dor de cabeça, e que eles, para que sejam especiais, terão de ser pais-aspirina. É, portanto, indispensável que os pais errem! Muitas vezes! E que, de problema em problema, casem errar com aprender.

 

Assim, talvez os pais nunca percam de vista que os melhores manuais sobre as crianças são os erros. Dos pais!

http://www.paisefilhos.pt/index.php/opiniao/eduardo-sa/7159-e-facil-estragar-um-filho

publicado por salinhadossonhos às 17:24
Terça-feira, 03 / 03 / 15

Provavelmente

Escrito por Eduardo Sá Quinta, 26 Junho 2014  

O que me parece fascinante é que as crianças, logo depois de dizerem “porquê”, pareçam tão capazes de dizer “provavelmente”.

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Por outras palavras: sentir é interpretar. E, sendo assim, aprende-se a ler nos olhos de quem nos lê. Os livros, esses, lêem-se nos olhos de quem no-los lê.

 

Vou contar-vos uma história do meu querido amigo João Carlos Gomes Pedro. Irei, seguramente, adulterá-la. Porque não conseguirei reproduzir todo o afeto com que a escutei. Mas a sabedoria que ressalta da história é tão contagiante que decidi, com a licença do meu amigo, compartilhá-la convosco.)

1. Era uma vez um rei que reuniu todos os sábios do seu reino e pediu-lhes que resumissem toda a sua biblioteca num só livro. Os sábios protestaram, considerando que a tarefa estaria muito para além do seu engenho. Como o rei não lhes deu alternativa, resignaram-se e, cinco anos depois, trouxeram-lhe um livro com 600 páginas. O rei, depois de o ler, chamou-os. E pediu-lhes que o resumissem numa folha. Os sábios, se bem que tenham protestado, recolheram-se por cinco anos mais, tentando cumprir a sua vontade. Depois de ler a folha, o rei convocou-os, uma última vez. E pediu-lhes que a sintetizassem numa única palavra. Recolhidos de novo, os sábios, ao fim de cinco anos, regressaram com tão engenhosa tarefa já vencida. Entregaram--lhe um pequeno papel, onde, com delicadeza, a traziam escrita. O rei, desdobrou o papel e leu-a, de forma atenta e curiosa. A palavra era: “provavelmente”.

 

2. Há muito tempo, chamava a atenção para o modo como as crianças, primeiro, aprendem a dizer “não”. Só depois, dizem “sim”. Mais tarde, usam o “porquê”. Para que, de seguida, digam “eu”. “Provavelmente” será, entre todas as palavras, aquela para a qual as crianças estão aptas, desde sempre, para compreender mas só quando se tornam sábias a irão aprender a usar. Talvez porque só quem diga “não” e “sim”, “porquê” e “eu”, ao mesmo tempo, consiga – então – dizer “provavelmente”.

 

3. O que me parece fascinante é que as crianças, logo depois de dizerem “porquê”, pareçam tão capazes de dizer “provavelmente”. Dizem--no, de forma mais ou menos implícita, quando, por exemplo, ainda muito pequenas, usam “termos caros” e, sem saberem o seu significado os utilizam de forma irrepreensível. Tudo como se dissessem, por outras palavras, “provavelmente”. Porque é que, então, quem está tão apto, desde tão cedo, para ler o mundo e as pessoas, se torna, tantas vezes, incapaz de ser amigo da leitura? Se nascemos tão capazes de ler o significado das palavras, e de o ler nas entrelinhas, o que fará com que as palavras se tornem, tantas vezes, inimigas da leitura? Porque é que, aparentemente, a escola – quando não deixa que se converse ou quando manda de castigo um aluno para a biblioteca – parece estragar a capacidade que todos temos para dizer “provavelmente”?

 

4. Não é possível que as crianças aprendam sobre tudo enquanto desconhecem quem têm junto a si. Sendo assim, aprendem a ler quando, na dança de apelos que existe entre o bebé e a mãe, ganha sentido uma fórmula cara a Hugo: “lê-me, lê-me para que eu te possa ler”. Antes de lerem palavras as crianças interpretam sentimentos, numa reciprocidade em que é expectável que a mãe lhos legende de acordo com aquilo que eles sentem.

 

Ler não é, então, juntar letras e palavras: é conjugar sentimentos. Mas, sendo assim, quando começamos a ler: quando se articulam os sons e os transformamos em palavras, ou quando as interpretamos? Quando interpretamos as palavras. Mas será que interpretamos os outros sem nos interpretarmos neles? Não! E é possível ler sem escutar? É.

 

5. Por outras palavras: sentir é interpretar. E, sendo assim, aprende-se a ler nos olhos de quem nos lê. Os livros, esses, lêem-se nos olhos de quem no-los lê. Ou, ainda (como se fosse uma operação matemática): ver x escutar = ler! Isto é: a educação musical e a educação visual são os melhores amigos da leitura. Já escrever supõe que sinto, que vejo, que escuto e que desenho. Ou seja: um corpo mal-educado para a tonicidade, para o movimento e para o ritmo zanga-se com a escrita. Já escutar e desenhar, dizer “não” e “sim”, “porquê” e “eu” tornam-nos, então, capazes de transformar todos os livros num só “provavelmente”.

publicado por salinhadossonhos às 17:25

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